Resumo da Postagem:
Na postagem a seguir, iremos disponibilizar tanto o poema "O Corvo" de Edgar Allan Poe na íntegra aqui o blog, como também a leitura no formato audiobook. Faremos uma introdução cobre o processo de gravação e produção do formato, em seguida há o vídeo para ser assistido, o poema na íntegra e dissertar um pouco sobre a obra e a minha percepção pessoal.
Para os amantes de audiobooks, ou seja, leituras em voz altas de obras literárias, trazemos um material muito interessante que foi feito especialmente para vocês: "O Corvo", a belíssima e famosa obra do escritor Edgar Allan Poe.
A minha intenção nas lives da Rádio da Natacha era sempre trazer um momento de leitura, porém, amigos, ler cansa muito mais a voz do que cantar... e ler depois de cantar é praticamente uma maratona por dia. Por isso, tive que abandonar temporariamente a ideia de ler nos dias da Rádio da Natacha.
Mas não fiquem tristes... eu tenho a intenção de ter esse quadro de leituras e trazer vídeos ao menos uma vez por semana! Além das outras obras do Poe, pretendo trazer autores nacionais e já até separei o meu favorito: Luis da Câmara Cascudo, a quem guardo profunda memória afetiva e tenho como inspiração para uma de minhas composições, "História de Amor", justamente, uma das histórias por ele trazida, "A Princesa de Bambuluá". Logo, certamente que ele está no topo da minha lista de material para o nosso Momento Leitura.
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Para hoje, trago para vocês a leitura de Edgar Allan Poe, "O Corvo". Confiram:
"O Corvo". Poe, Edgar Allan. 1895.
Tradução: Fernando Pessoa.
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais –
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
“É o vento, e nada mais.”
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome “Nunca mais”.
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, “Amigos, sonhos – mortais
Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este “Nunca mais”.
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!
Breve Análise:
O poema retrata o processo doloroso que envolve o luto. O corvo, a ave escolhida para servir de alegoria no poema pode ser interpretado como uma ave agoureira, porém, trata-se de uma ave muito inteligente capaz até de realizar atividades que exijam raciocínio lógico e no trecho em que a ave escolhe, justamente, o busto da deusa grega Atenas, deusa da sabedoria, para pousar. O corvo simboliza a volta à realidade quando se perde alguém: de um lado, todos iremos partir; por outro lado, a saudade será eterna. Vive-se intensamente a dor, sabendo que ela nunca sarará, mas sabendo que a dor que um dia nossa por alguém, será de alguém por nós... e assim, "Nunca mais..."
Percepção pessoal:
Essa é uma obra que particularmente me emociona bastante. Em obras literárias e afins, é sabido que nós só tomamos conhecimento da vida, quando encaramos a morte. Com isso, temos que morrer e renascer inúmeras vezes: morre nossa criança, nasce o nosso eu adulto; morre o nosso adulto, nasce a nossa forma maturada... e assim, experimentamos inconscientemente esse processo; assim como vivenciamos o processo literal, o momento de dar adeus. O "nunca mais" é muito doloroso! Me lembra os adeus que tive que dar e as perdas que sofri mesmo que elas tivessem ficado... e quem tenha ido seja eu. O que morreu foram as vivências e as futuras experiências que foram interrompidas pelo acaso do destino. Em hostes celestiais ou terrenas, o "nunca mais" nos cerca o tempo todo.
💜
Espero que vocês tenham gostado da postagem e da análise e não deixem de seguir o blog, está na opção Menu. Claro, se inscrevam no meu canal do YouTube também. 😁
A gente se vê na próxima postagem.
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