Natacha Macsan
Sobre as Redes - Por que o Google e o YouTube estão perdendo espaço nas buscas para o Tik Tok?
Já tem um tempo que tem saído matérias dizendo o quanto o Tik Tok tem servido como base de pesquisa sobre os mais diversos assuntos. Da viagem ao DIY (do it yourself, faça você mesmo), indo da moda à receitas culinárias, as pessoas tem utilizado mais o Tik Tok do que o Google e o YouTube, que antes eram a primeira referência em termos de pesquisas e buscas das pessoas, mas por que o Google e o YouTube estão perdendo espaço nas buscas para Tik Tok e afins?
Enquanto usuária, eu posso dizer que a perda desse espaço pelo gigante Google, que também é detentora do YouTube, é muito responsabilidade dele. Ele deixou que a plataforma ficasse atraente para os criadores de conteúdo, especialmente de blogs e sites, e os conteúdos começaram a ficar obsoletos. Volta e meia eu preciso pesquisar coisas simples, como alguma ferramenta disponível no Word, por exemplo, e quando você faz a busca, acaba caindo em matérias muito antigas, com os layouts antigos da plataforma pesquisada e você acaba não achando a informação que você quer, e por que? Porque ficou obsoleto, não serve mais e os criadores ficaram desestimulados a atualizarem as postagens ou criarem conteúdos atualizados.
Precisa ir muito longe? Nem precisa. O próprio Blogger, esse que eu uso para lhes escrever, está extremamente desatualizado e poderia já ter implementado ferramentas que ajudariam bastante os criadores de conteúdo já dentro da plataforma, sem precisar recorrer ao HTML, por exemplo, que é como ainda temos que fazer. Os layouts disponíveis são sempre os mesmos e você vai precisar de mais conhecimento sobre programação de sites para poder fazer algo decente e de acordo com as demandas atuais. Isso porque eu estou falando ainda do browser, porque se a gente for citar o aplicativo do blogger, o buraco é bem mais embaixo, lá a situação é pavorosa. E, francamente, o Blogger é do Google, mermão, nada justifica isso a não ser uma completa e total negligência do próprio Google.
No Youtube, as demandas começaram a ficar surreais. Não bastava você fazer um vídeo, você tinha que fazer uma produção de nível televisivo, com iluminação, cenário, áudio, imagem, coisa que em um país como o Brasil, são difíceis ter acesso. Uma boa câmera ou webcam são muito caros; microfones são caros; pintar uma parede e colocar simples estantes, também. Então, se você quisesse começar a fazer conteúdos para o Youtube, você tinha que investir em uma mega estrutura, porque a exigência era e ainda é alta.
E aí vem o Tik Tok, formato vertical estilo selfie, celular, qualidade normal, vida real.
É isso que essas pessoas querem ver, conteúdos reais, produzidos por pessoas reais, sobre situações reais, que possam trazer mais fidedignidade aos fatos. Ora, se eu quero viajar, quero saber quais experiências reais, boas ou ruins eu posso enfrentar e quem vai me dizer isso não é quem está fazendo um conteúdo quase televisivo e glamoroso. Quem vai me dizer isso são as pessoas reais, em suas experiências.
É por esse motivo também que eu vejo a queda do Instagram. Muito mais do que o algoritmo zoado que o Instagram tem e está transformando a experiência na plataforma algo ridiculamente redundante; essa realidade maquiada, perfeita, publis de produtos que dá para sentir o cheiro de que não funcionam, resgatando esse formato televisivo que é só o contratante pagar que você vai divulgar, vem afastando as pessoas.
Alguém aqui se lembra como surgiram as blogueiras e blogueiros?
As blogueiras compravam os produtos em prateleiras aleatórias da farmácia, faziam o teste e contavam em detalhes em seus blogs o que acharam daquele produto, com qualidades e defeitos.
Hoje, com a compra da opinião, porque o fato é esse, nós perdemos o referencial se aquele produto é bom mesmo ou se a blogueira - o título permaneceu, apesar de elas agora não atuarem mais em blogs e sim em Instas, YouTube algumas ainda e indo para o Tik Tok - só está fazendo uma publi. Então, nosso referencial se perdeu e a gente só está sendo bombardeado com o consumismo exagerado que não faz muita coisa a não ser nos deixar frustrados.
Um blog que existe há muito tempo e que manteve seu formato, é o Almanaque SOS. Ele adaptou seus conteúdos para as demais redes e com o seu "Será que funciona?" nos conta se determinada coisa funciona de fato, é útil e nos dá a experiência real, dizendo se deu certo ou não, se ficou gostoso ou não. Você já deve ter visto vídeos do Bruno Oliveira no Facebook, Tik Tok, Kwai e demais plataformas, sempre com muitos comentários e eu mesma adoro ver, sempre vejo o que ele está testando, mesmo que eu não tenha absolutamente nenhum interesse naquilo naquele momento; mas eu vejo por causa do famoso "vai que eu precise?", aí eu já sei.
Esse abandono das blogueiras e blogueiros dos blogs e sites, nos causou um enorme vácuo de informação. Para ser bem honesta, eu detesto pesquisar qualquer coisa no Tik Tok, Kwai, Insta porque as palavras chaves são difíceis de serem detectadas para te levarem ao conteúdo que você realmente está pesquisando. Nesse sentido, acredito que eles precisam melhorar muito as questões das buscas e eu acho que se eles permitissem que o próprio criador de conteúdo pudesse catalogar que tipo de conteúdo eles estão criando para além das hashtags - que nem sempre as pessoas usam - eles teriam efetividade. Eu não acho válido eu ter diversas contas para criar conteúdos distintos se eu poderia simplesmente catalogar sobre o que é meu conteúdo para que ele fosse encaminhado para as pessoas corretas. Muito mais prático.
E o Google fez o que para atrair novos criadores? Nada!!! Isso porque do ponto de vista econômico, os blogs e sites te geram receita, monetizam, e você, criador, tem mais autonomia para criar seus conteúdos sem precisar esperar uma marca ver seu perfil e te contratar. Só isso já era para ser atrativo o suficiente. O mesmo estava valendo para o YouTube... mas não o Youtube de hoje, o Youtube de anos atrás, que permitia qualquer criador monetizar seus conteúdos. Hoje, você precisa passar por uma série de requisitos, como ter uma quantidade mínima de seguidores e horas assistidas no seu canal para estar apto a se cadastrar para monetizar.
Você pode pensar: mas as outras também não pagam, você faz conteúdo de graça. Sim, mas o grau de exigência das produções é baixa, a edição é simples de fazer, assim como os conteúdos não precisam de muita produção, diferente do esperado no Youtube; além de serem vídeos curtos. Então, é mais atrativo ter mais mobilidade na hora de criar, do que ter que criar conteúdos longos que ainda demandam uma série de edições. Sem contar que o YouTube gera receita em cima do seu conteúdo, literalmente, e não fazem essa partilha com todo mundo; enquanto as outras plataformas não, elas geram receita em cima da plataforma e não necessariamente em cima do seu conteúdo, como as propagandas que flodam qualquer humano que ousar abrir qualquer vídeo no YouTube. Logo, não é de se estranhar que as pessoas passaram a usar as outras plataformas para suas pesquisas e buscas para além de Google e Youtbe,
Para o Google e o YouTube retomarem o posto de mais acessados quando o assunto é buscas e pesquisas a fórmula está aí: resgatar o interesse dos criadores em criarem conteúdos em suas plataformas com o formato já existente; não precisa investir em vídeos curtos, precisa ser atrativo e atraente para quem cria. Uma vez que eles retomem para onde estavam, as pessoas voltam a usar suas plataformas. Simples assim! O único entrave, provavelmente, é a ganância. E a ganância pode ter um preço alto. É melhor dividir para multiplicar, do que somar e começar a subtrair. Nada de novo na história do mundo, a ganância sempre leva à ruína.
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