Folhetim: "A Colmeia" - Capítulo 14.
De quem era a culpa?
Regina se perguntava sempre. Regina, a rainha. Regina significava literalmente rainha. Palavra oriunda do latim, regina-ae, feminino de rex, regis; dá origem ao verbo reger no português: aquele que rege, que domina, patrono... esse é o masculino. O feminino é rainha; título de honra dado às deusas: soberana, augusta; grande dama.
O nome encarregou à ela também seu destino.
Regina, a que rege a Colmeia... título de honra dado às deusas. Ela era deusa? Depende. Qual a função de um deus, uma divindade? Se for carregar fardos, então, o conceito estava correto. Se for para viver de luxos e honrarias, aí o equívoco não poderia ser maior.
Fora escolhida pela sua aptidão em boa gestão.
Na Colmeia, ninguém era vista como melhor ou pior, todas eram valorizadas pelos seus gostos e suas verdadeiras aptidões com o trato das coisas. Ela fora escolhida simplesmente porque tinha o interesse na coisa toda e sabia fazê-lo com maestria. Não é sobre status, é sobre ter a sabedoria e a responsabilidade necessária para manter a paz e a harmonia dentro da Colmeia. E alguém, que desprovido dessas capacidades, não deveria almejar tal cargo, isso reduz a nossa alma: querer algo porque esse algo nos proporciona certas vantagens; devemos querer ser e fazer aquilo que nos interessa, que fazemos bem e que fazem bem para gente. A implementação desse conceito na vida das habitantes dali é o principal responsável para manter a harmonia entre elas. Ninguém tem raiva, rancor, recalque com ninguém; a inveja é sempre admiração e se você quer evoluir em alguma coisa, basta você procurar alguém que seja bom naquilo e solicitar que seja ensinada que a sua mestra irá te passar todos os conhecimentos necessários e te auxiliar na evolução. É assim que as coisas funcionam por lá.
Lógica pura e simples. A frustração, definitivamente, vem da falta de reconhecimento e a frustração é um sentimento perigoso demais. Eu olho o outro com inveja, com recalques, quero não ser só o outro, mas quero que o outro não seja; para mim, começo a despertar gatilhos, depressões, ansiedades, estresses. Nada de bom sai daí. Por isso que uma das formas de manter essa sociedade saudável e ativa, foi a eliminação do status. Você faz o que deseja fazer; é quem deseja ser e tem acesso à todas as ferramentas para isso... Inclusive terapias.
E estava Regina, lá do alto observando a Colmeia, aquela estrutura que construíram às custas de muito sofrimento para, só então, se alcançar a paz e, ainda assim, se perguntava: De quem é a culpa?
A crise pontual que se instaurava era perigosa demais e colocava em risco a paz ali e lidar com ela seria desafiador; algo muito ruim poderia acontecer.
E no fundo, ela já sabia o que estava acontecendo.
A coisa estava sendo abafada porque muitos bebês de fato morreram... para se perpetuar de maneira saudável, a raça humana precisa de um elemento fundamental: ela precisa se misturar. E o que era a Colmeia senão uma sociedade murada, que protegia e ao mesmo tempo privava as que estavam ali dentro?
"De quem era realmente a culpa?"
A raça humana foi longe demais. O custo de não conseguir chegar a consensos óbvios foi pago com as medidas mais drásticas e extremas.
Vai até a porta e fala para Ana, a secretária.
- Ana, por gentileza, marque uma reunião rápida com a Liz e Sofia, por favor.
Eram, respectivamente, a médica e a pesquisadora. Queria tirar essa dúvida da sua cabeça, embora seus instintos já lhe dissessem.
------ Fim do Capítulo 14.
Plágio é crime previsto pela Lei 9.610/98 e medidas cabíveis serão tomadas em caso de apropriação indevida.
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