Se você ainda não leu o Capítulo 8, clique aqui. Para começar do Capítulo 1, clique aqui.
A COLMÉIA - CAPÍTULO 9
- Fomos solicitados novamente.
- De novo?
- Sim.
Ficaram em silêncio. Precisava falar? Não. Nem sempre o óbvio precisa ser dito. Até quando a situação seria ignorada?
- Engraçado. Criam a situação, mas não querem lidar com ela.
- Foi ordem do pajé. Ele disse que se a gente não tomasse parte, seríamos castigados nós.
- Por que os castigados precisam ser nós, se nós não tomamos as decisões e não somos incluídas nela?
- O novo Cacique está tentando intermediar a situação.
- Ele ainda nem sabe o que se passa aqui, como ele vai intermediar?
- O Pajé disse que vai informar a seu tempo.
- Por isso essa situação não se resolve. É tanto leva e trás, sabe-sem-saber que fica todo mundo no escuro. As coisas só podem ser resolvidas quando tudo estiver as claras.
- Pois é.
- E enquanto isso, a gente fica no meio. Só falta a culpa ser nossa.
O guerreiro se aproximou. Sua figura imponente e amedrontadora era sentida antes mesmo que ele aparecesse.
- O que vocês estão cochichando aí, já estão prontos?
- Já. Já estamos prontos. Estamos falando sobre a nossa missão e sobre como isso pode acabar respingando em nós. - respondeu um deles.
O guerreiro também pensava nisso, mas era seu dever não permitir que essa ideia tomasse forma e nem virassse um problema.
- Estamos apenas fazendo o que podemos fazer de melhor a respeito de uma situação trágica. Não fomentem essas conversas, alguém pode ouvi-los. Nosso papel aqui é muito importante e precisa de pessoas de confiança. Vocês são de confiança, são confiáveis?
- Somos. É claro que somos. Só que a quantidade de viagens aumentou consideravelmente, o que você acha que vai acontecer? Vão começar a surgir perguntas. Viajamos e voltamos de mãos vazias. Ou somos muito incompetentes ou estamos fazendo algo fora do comum. Já parou para pensar nisso?
O outro nem se mexia. Só ouvia. Olhos esbugalhados, atento à situação... com medo de se mexer e esse pequeno movimento ser o responsável por qualquer eventual colapso da normalidade.
O Guerreiro sorriu.
- Fico feliz com a sua capacidade de analisar os fatos. Não. Não tinha pensado nisso.
O outro que só ouvia finalmente respirou. A apneia durou apenas alguns instantes, que pareceram horas. Não passava nenhum vento no corpo dele.
- Você tem razão - disse o guerreiro.
A situação estava equilibrada. Um disse o que achava e com isso levantou questões importantes.
- Vamos fazer nossa missão e depois vamos caçar. Pronto! Resolvido.
Ah, pronto! Que ideia brilhante. O que disse se arrependeu de ter dito, porque antes tinha um trabalho a fazer agora tinha dois. Não que não gostasse de fazer as missões, mas duas, uma seguida da outra seria muito exaustivo. A viagem até a Colmeia era longa e delicada a sua volta. Uns dias de descanso não fariam mal.
- Escutem. Eu sei pela expressão de vocês que não era o que vocês queriam, mas vocês são guerreiros ou não?
- Somos. - responderam os dois.
- Então parem com a murmuração. Nós estamos fazendo o que precisa ser feito, da melhor forma que podemos, com as condições que temos. Vamos, repitam isso comigo.
- "Nós estamos fazendo o que precisa ser feito, da melhor forma que podemos, com as condições que temos." - repetiram os dois sem nenhum entusiasmo.
- Quero mais energia. Falem novamente.
- "Nós estamos fazendo o que precisa ser feito, da melhor forma que podemos, com as condições que temos." - repetiram praticamente repetindo a entonação nada entusiasmada.
- Horrível. Pronto, decidido. Nós vamos ficar todo o trajeto repetindo isso até que isso vire entre no coração de vocês.
- Que? - perguntaram os dois com uma cara de desagrado.
- Isso mesmo. Vocês são jovens, ainda não entendem. E se vocês acham que sabem do cenário completo, estão enganados. Se soubessem, agiriam de outra forma, mas como não sabem, fazem essas coisas. Então, primeiro vocês precisam aprender o mínimo da essência, para só depois serem dignos. Entenderam?
A informação era nova. Eles não sabiam de tudo, então. Dessa vez a determinação deles foi diferente. Ergueram o corpo, a cabeça e responderam:
- Entendemos.
- Agora sim. Vamos! Já esta tudo preparado.
Seguiram viagem.
------ Fim do Capítulo 9.
Plágio é crime previsto pela Lei 9.610/98 e medidas cabíveis serão tomadas em caso de apropriação indevida.
Comentários
Postar um comentário