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Folhetim:"A COLMEIA" - Capítulo 5
Antes do toque de chamada, pesquisadora e médica se reuniram para se preparar ao inquérito que teriam que enfrentar. A explicação dos eventos deveria sair delas, mas elas não tinham explicações plausíveis a dar. Já era o 9ª evento em espaços muito curtos de tempo. Se isso continuasse, rumores começariam a acontecer e isso poderia colocar em cheque toda a organização da Colmeia.
Elas olhavam os arquivos com todos os exames, toda a checagem, separação de material orgânico manipulado e nada! Não achavam nada! Um erro humano seria mais fácil de esclarecer. Não ter respostas claras tornava tudo ainda mais nebuloso nos eventos que se sucederam.
- É a natureza reagindo. Não tem outra explicação. - disse a pesquisadora.
- O ultrassom foi feito uma semana antes, não tem como o sexo ter se desenvolvido em prazo tão curto. Quando tentamos fazer um dia antes, já não dava para conferir com precisão, as perninhas fechadas e o bebê já ocupando todo o espaço na barriga. Isso aconteceu nas outras ocasiões.
Elas estavam apreensivas. Que explicação dariam?
Essa não era a pior parte. Elas constantemente se posicionaram contra as medidas tomadas, poderiam ser apontadas como detratoras, poderiam alegar que elas estavam deliberadamente deixando a situação acontecer para forçar a aceitação de um novo modelo de sociedade. Elas sabiam que pareceria isso, pareceria insurgência e desobediência. A questão é que elas não fariam isso, forçariam a situação sabendo das consequências, mas é muito difícil provar que não fariam se até alguns anos atrás, quando surgiram os primeiros casos, elas se posicionaram fortemente contra as decisões tomadas para lidar com o caso. Claro, isso tinha sido antes de terem sido enviadas para a Sala da Verdade. Tudo mudou depois daquilo. Ainda assim, poderiam alegar que elas estavam conspirando para impor as ideologias delas e que todo esse tempo elas estavam fingindo.
- Você sabe que podem nos acusar de conspiração, não sabe? - perguntou a médica.
- Estava me perguntando se você não estava pensando a mesma coisa. - respondeu com expressão preocupada. - É a natureza agindo. Nem sempre a ciência explica tudo.
- Eventos repetidos assim vai colocar em cheque a nossa competência para as demais pessoas. Podemos até conseguir explicar ao conselho, mas e quando as mães começarem a se reunir a falar das coincidências? Elas vão acabar juntando as peças. De qualquer forma, nossa cabeça estaria a prêmio.
A pesquisadora não respondeu, apenas ficou refletindo nas possibilidades de eventos trágicos que se abriam a sua frente. Ela sabia disso também. A situação começou a alcançar um patamar preocupante. Era uma bomba relógio, a situação poderia explodir a qualquer momento. Como lidar com a situação agora?
- Não vai ter jeito! Ou a gente tenta explicar que não foi nossa responsabilidade, que é a natureza agindo e isso fará cair uma suspeita sobre nós duas; ou a gente vai ao aconselho e coloca toda a operação em alerta vermelho. É melhor sermos honestas. Caso contrário, seremos punidas e nos substituir não irá resolver a situação de qualquer jeito, ela vai continuar acontecendo e só em um futuro distante iria ser provada a nossa inocência. Então, vamos simplesmente enfrentar os fatos como eles são e avisar que a operação já não tem vias de funcionar perfeitamente, porque não está mais sendo possível garantir os resultados esperados. O que você acha? - perguntou a pesquisadora.
- Você tem toda razão. Acho que não tem outro jeito.
Olharam uma para a outra como sinal de apoio, seguraram as mãos, respiraram fundo com os olhos quase vidrados, como se fosse necessário entrar em transe para conseguir manter a lucidez naquela situação.
A sirene toca.
Chegou a hora.
Se dirigiram ao conselho e lá teriam que explicar:
O porquê de ter nascido menino
------ Fim do Capítulo 5.
Plágio é crime previsto pela Lei 9.610/98 e medidas cabíveis serão tomadas em caso de apropriação indevida.
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