- Eu já te disse, em todas as outras vezes que você ou seus antepassados vieram aqui, vocês tem a opção de compreender nossos motivos, basta ir até a Sala da Verdade que tudo se esclarece.
- Eu fui orientado a não ir para lá. É a sala da loucura, você e eu sabemos que não são todos que sobrevivem a essa experiência. Quando meu bisavô retornou, ele quase enlouqueceu. Sempre que a lua surgia no céu, o espírito da noite não lhe visitava mais com luz, mas só com trevas. Quando lhe perguntávamos o que era, ele nunca quis dizer, só disse que havia uma verdade que nós nunca conseguiríamos conceber, porque nosso coração era puro demais para isso e nos orientou a deixar que vocês tomassem suas próprias decisões.
- Então, por que vocês não seguem a orientação que ele deu para vocês?
- Porque acreditamos que a gente consiga chegar a um consenso para reestabelecer o equilíbrio das coisas. Se nós conseguimos, porque vocês não conseguem?
- Porque o nosso conceito de força e poder é diferente do de vocês. Nós tentamos, acredite. Porém, o orgulho crescia demais aos olhos e com isso conspirações e conspirações se formaram para destruir tudo o que construímos e nos levar ao que era antes e o que era antes era uma aberração. Não íamos permitir que tudo isso pudesse se repetir.
- Mesmo depois de tanto tempo, você ainda acha que é necessário? Será que os novos conceitos já não se enraizaram nas mentes mais jovens?
- Pode ser que sim. Só que, a partir do momento que esse velho formato passa a se formar, os velhos hábitos voltam junto.
- Não consigo compreender.
- Para compreender você sempre vai ter a Sala da Verdade. Se eu te contasse, você não conseguiria acreditar nas minhas palavras. A nossa geração se corrompeu demais e em todos os aspectos. Alianças e acordos sociais tentavam ser formados, tentávamos a todo custo reestabelecer as coisas, mas as coisas não melhoraram. Decidimos, então, fazer o que precisava ser feito, cortar o mal que provocava tudo isso.
- Mas assim, dessa forma?
- Sim, precisou ser assim. E acredite, choramos lágrimas de sangue. Ainda te digo que se não fosse por nós, talvez não houvesse ainda um vocês.
- Nós somos fortes.
-Eles eram monstros. - interrompeu energicamente.
Se recompôs.
- Prepare sua alma e seu coração e volte. Precisamos que você repasse e explique para os que virão a importância de estarmos aqui. A sua palavra todos irão respeitar. Não queremos que um dia precisemos expor a todos a verdade e isso macular o coração da sua gente. Você sabe que é preciso isso, por isso você veio até aqui, não foi?
- Não vou mentir, foi sim. Algo sempre me incomoda e diz que eu tenho que vir.
- Se prepare e volte.
- Agradeço a sua recepção, quando eu estiver pronto mandarei notícias.
- No aguardo.
Saiu da sala grande e oval com grandes janelas de vidro que permitiam que a luz iluminasse todo o ambiente. Dali, se via todo o território. A imagem era bela e ao mesmo tempo assustadora para o originário. Só estava mais acostumado ao ambiente porque já o frequenta desde pequeno, quando acompanhava seu pai, mas o elevador nunca foi um ambiente confiável nem confortável para ele. Por fora confiava nos espíritos da natureza, por dentro gritava de pavor e queria se agarrar a uma perna adulta. Atravessou toda a estrutura limpa e incrivelmente organizada, tanto à direita, quanto à esquerda. Observou alguém que passava e ficou refletindo sobre como seria possível. Passou os portões e seguiu pelas verdes plantações até o seu destino.
------ Fim do Capítulo 1
Plágio é crime previsto pela Lei 9.610/98 e medidas cabíveis serão tomadas em caso de apropriação indevida.
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